Pois bem meus caros, quem já leu o Ride the Magic bus sabe qual confortável é a minha experiência nos magníficos coletivos da cidade de São Paulo.

Esta segunda feira começou como tem sido as últimas duas semanas, engrossando as estatísticas, resolvi que seria melhor se eu continuasse a levantar cedo, então 7h eu estava de pé e 07h20min estava na academia e 09h30min já tinha tomado café e estava saindo para realização de mais duas entrevistas na tentativa maluca de evadir as estatísticas e o ócio.

Tudo ia muito bem (bem demais para um servo tão dedicado do poderoso Murphy como eu) o ônibus ficou moderadamente vazio assim que eu entrei e pude praticamente escolher onde sentar, feliz (burro) e faceiro escolhi meu lugar ao sol e o astro rei incendiava incidia na janela do ônibus, dando ao coletivo de janelas inúteis um agradável ar de sauna seca, mas tava tudo ótimo, tava de terno num calor que até elefante na bunda sua, mas tava tudo bem.

Eis que entram duas figuras no ônibus, uma linda menina de uns 17 anos com ar de introspectiva e um senhor com cara de maluco uma sacolinha na mão no melhor estilo doutor Chapatin... Informação adicional: eu estava sentado na última fileira com dois lugares à minha direita, agora tentem advinhar quem sentou ao meu lado, quem sentou na outra cadeira e com quem o senhor que tinha praticamente estampado na cara FREETALKER? Pois é a menina sentou deixando uma cadeira entre nós quieta se limitando a olhar para mim mais tarde com um belo sorriso que dava a entender ”tomaste no cu em meu caro?”.

O velho sentou-se já reclamando:

- Zorra essa banco é muito ruim.

E nisso eu afundei a cabeça no meu livro enquanto o senhor insistia.

- É por que, eu já mandei uma carta pro hospital das clínicas (WHAT?) e mandei outra pro jornal do estado , e eles publicaram UMA PÁGINA INTEIRA (baralho esse puto escreveu pra capacete) mas no fim das contas não deu em nada, o que vale neste mundo é propina.

Nisso eu já desisti fechei meu livro com cara de é mesmo? E fui sacudindo a cabeça enquanto o cara falava esperando alguma oportunidade de encerrar o assunto, enquanto isso eu fui me distraindo no meio do papo e quando voltei ao foco ele estava falando:

- Por que é soda o povo hoje em dia ta colocando as pessoas em cana, por qualquer besteira é 4 anos de cadeia enquanto isso meu amigo #$#@#$ (vou manter em sigilo os nomes por medo ok?) amigo não, conhecido... ele só ia lá em casa às vezes ( brother, praticamente brother) já matou uns 50 e tá aí solto abraçando a galera na rua ( gente boa ele não?) mas aí você chama um gay de viado e pega 4 anos de prisão.
Deste momento em diante eu comecei a prestar atenção o cara não ia parar de falar mesmo então vamos ver que tipo de merda esse cara vai falar.

- É soda, é soda, por exemplo, você pode xingar um coreano ninguém gosta de coreano, nenhum coreano presta e você pode falar, agora se xingar um judeu tu tá podido, vai preso.

- É mesmo – esta frase minha foi a responsável por tornar tudo isto um diálogo.

-Pois é to te dizendo, pode falar o que quiser de chinês, de coreano de boliviano, mas não pode xingar viado, nem judeu e nem negro... (neste momento ele olhou pro negão ao lado dele a.k.a EU) Não me leva a mal, tenho muitos amigos judeus também... Bom mas como eu tava falando é soda outro dia o Datena tava falando no programa dele “Esse vagabundo é um pédofilo” e o cara não tinha feito nada, o cara disse que não tinha feito sexo com ela e a menina disse que o cara não tinha feito sexo com ela (a cada vez que ele falava sexo a voz dele aumentava uns 200 decibéis ficando perfeitamente audível até para o cobrador quanto mais para as distintas senhoras que estavam a 2 passos tentando descer e olhando para minha cara, e neste momento o ônibus todo resolveu prestar atenção nas palavras seguintes ) enquanto isso eu conheço uma traficante aqui no Brás ela toma conta da biqueira e mais de 10 moleques de 11 ou 12 anos que foram lá e ela deu o buraco da frente pra eles todos, atrás não por que ela não deixa, mas na frente... Na frente é direto.

A senhora que tava esperando pra descer olhava pra minha cara, seu rosto tava tingido de púrpura e a menina ao lado dele estava olhando pro outro lado rindo só parou de rir quando o supracitado senhor soltou a próxima frase:

- É soda pra baralho sabe, por exemplo, outra coisa, se o cara enfia a mão na cara da mulher ela corre pra delegacia da mulher, mas eu li no jornal esses dias 80% da violência doméstica hoje em dia é da mulher em relação ao homem e nós não temos como nos defender disto (É, um homem de 1,83, eu, por exemplo, nunca conseguiria evitar apanhar de uma mulher de 1,55 minha namorada, por exemplo... dodge já ouviu falar disso?). Eu acho que o homem devia ter como se defender e revidar (ta ai um cara da escola Nelson Rodrigues de trato as mulheres) ou pelo menos denunciar (se ponha no lugar do escrivão, olhando um negão de 1,83 reclamando “Então, minha namorada me bateu” sejam sinceros por quanto tempo segurariam o riso?)

Eis que subitamente o senhor se levanta

-Sabe acho que você poderia escrever um livro falando destas coisas, melhor do que as pessoas lerem esse monte de literatura de ficção que não agrega nada as pessoas (Eu ainda estava segurando o meu As Brumas de Avalon na mão) é legal mas não agrega nada as pessoas, pensa nisto.

O cara desce fica aquela deliciosa sensação que até o motorista está te olhando pelo retrovisor.

Obrigado Murphy, pelo ótimo início de semana.